quarta-feira, 20 de outubro de 2010

E quem não consegue esquecer?

Entre as coisas despercebidas e as que simplesmente deixei para trás ficaram as lembranças, que no rastro de um dia bonito em que o sol aponta lá de longe, vira e mexe teimam em voltar.

Como uma visita que não estávamos esperando mas é sempre bem-vinda, e que sabe que se quiser ficar até mais tardinha terá uma aconchegante cama para se deitar. Ela repousa. Eu descanso, mas não consigo tirar os olhos dela. E quando a vejo assim, tão calma, respiração funda de quem está tendo um sonho bom, me sinto ainda mais próxima, como se fossemos uma só.

Na manhã seguinte, ela não está mais lá. Já sabe onde é o esconderijo da chave, sai e fecha a porta sem fazer alarde. Quando acordo, já sinto saudades e a impotência de não conseguir voltar ao tempo. Ninguém consegue.
Olho tudo a minha volta. Gosto das coisas como estão, da vida que levo, dos novos amigos, do meu grande amor, e até das novas lembranças (como no almoço da semana passada, por exemplo, quando morri de rir por muito pouco). E me orgulho, do muito, muito que ela representa e fez de mim quem hoje eu sou.

Lavo o rosto. Passo um batom. Posso ver diante do espelho um pouquinho de solidão. Por isso, evito olhar muito. As minhas verdades estão lá, escancaradas. As minhas mentiras espero que ninguém possa ver ou se indignar por elas algum dia.

Fantasio como teria sido as outras vidas que já tive nestes quase 30 anos. Foram várias. E não conto pelo número de vezes que me apaixonei por alguém, mas por todas as vezes que meu coração bateu mais forte por um emprego, um idioma, um país, uma canção, uma viagem, uma amizade, um gesto, um olhar. Fantasio mas não me atrevo a comparar. Não tem como ser mais feliz do que sou, no máximo, só diferente.

Escrevo um email pro passado, alertando que a lembrança, talvez também passe por lá.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fico cada vez mais impressionado com como você escreve bem!

Beijos,
Cascão.