quarta-feira, 1 de junho de 2011

Junho

Eu peguei ela no colo, segurei bem alto e quando vi já estava voando. Sabe quando a gente coloca a criança lá em cima e solta por uns segundos em uma brincadeira que mistura alegria e exitação? Mas bastou que eu apontasse o caminho, ela não voltou mais.

Lembro como se fosse hoje. Ela abriu um sorrisão e com os olhos iluminados já enchia meu coração de saudades. A menina do papai um dia seria a mocinha dos caminhos que só seguem para frente, na direção do sol.

Corria de um lado para o outro da sala como se lhe escapasse os dedos. Uma energia sem controle percorria sua imaginação na ânsia de construir um mundo colorido, totalmente customizado com nuvens e sonhos. A princesa do vestido amarelo de cetim todo fluído preparando-se eternamente para a valsa que terminava apenas quando ela adormecia exausta de felicidade (pontualmente às 22 badaladas).

Crescer não foi difícil para ela. Envelhecer sim, uma lamentação.

Já era crescida ao 1 ano e meio de idade, quando montou seu primeiro quebra-cabeças junto a bebês maldosos e infantis que batiam a mão só para ver todo o trabalho destruído. Toda vizinhança sabia como era madura aquela pequenina quando sua mãe lhe dava a mão para atravessar os 3 quarteirões até o lugar onde aprenderia a ler o mundo.

Não só por vaidade, mas por uma louca vontade de ser admirada por todos, ver que os anos lhe traziam muito mais do que cabelos brancos como também a experiência de que não se pode confiar nos humanos, envelhecer sempre lhe pareceu injusto demais.

Aos 10, passou a trançar seu próprio cabelo e a guardar ali, em cada mecha, um pouco daquilo que não cabia mais nas palavras do seu caderno de riscar. A guardar ali, as amizades que seriam para sempre.

Com 15, conheceu um menino que lhe convenceu a realizar cada um dos seus sonhos. Para isso, ela só teria que desatar as tranças e soltar os cabelos. Por conta própria decidiu que deixaria também de usar macacões e ousar uma saia acima dos joelhos de vez em quando.

Quando viu já estava de frente o espelho medindo com a régua a injusta força da gravidade e rindo daquilo tudo com as irmãs que havia escolhido a dedo para dividir panelas cheias de brigadeiro.

Ela foi feliz a cada dia, para o desprazer dos invejosos que não acreditavam que bastasse ter a família perfeita que nada mais seria problema.

Ela tinha em mãos um universo imenso de descobertas prontas para serem carregadas em sua mala vermelha sem cadeados. Sentiam a cabeça explodir de raiva quando ficavam sabendo que mais uma vez ela embarcava em um sonho sem destino, sem medo, de corpo e alma.

Assim, cheia de imperfeições, incontáveis erros e acertos, hoje me olha nos olhos e deixa sua casa sempre aberta para chorar quando é preciso, dar piti porque alguns dias também faz frio, mas me dá a certeza que tudo termina em um dia quentinho de cafuné em baixo do cobertor.

4 comentários:

Matheus Pitillo disse...

Texto lindo. Lindo mesmo. E no nosso mês de Junho - além do péssimo inferno astral - vem as nossas alegrias, nosso crescimento e nossa força. Então parabéns a nós mesmo. E que continuemos crescendo sempre e sempre, enquanto o ponteiro ainda resistir.

Vanessa disse...

linnnndo!

Anônimo disse...

e tá chegando o aniversario dessa linda menina de vestido amarelo e tranças no cabelo...te amu irmã..

Matheus Pitillo disse...

"parabéns a nós mesmo" foi foda! Tô rindo aqui! UHDUHEAUAEUHE.