segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Quando a gente começa a esquecer do medo.

Ultimamente tenho carregado meu super guarda chuva a tiracolo. Ele é preto, imponente, pode proteger mais de uma pessoa - no caso da amiga ter esquecido a sombrinha, serve como muleta para escalar algumas subidas mais ingremes e de espada - se algum engraçadinho ousar me roubar. Tenho ensaiado usá-lo também como escudo ou arma. Se a minha reação não for como da última noite...

Estava voltando do serviço, um passo de cada vez, quando reparei que a cada esquina - quando eu parava para esperar os carros passarem - um mendigo fedorento dava voltas em torno de mim. Olhei firme pra ele, quando peguei encarando a minha bolsa. Não é possível que ele vai tentar... Ah não!

Tentei despitar de todas as formas. Mas não poderia arriscar um atropelamento em troca de um celular. Na verdade, minha maior preocupação de ter a bolsa roubada seria a chave. Eu estava com dor de cabeça, hiper cansada e tudo o que mais queria era entrar dentro de casa. Sem a chave, seria eu a sem teto.

Estes movimentos se repetiram por eternos 7 quarteirões. No último, vi que ele chegou em uma menina menos previnida e falou: - Passa a bolsa. Não sei se ela era tão sonsa ou bastante esperta, só sei que ajeitou a bolsa no ombro e como se não tivesse ouvido cruzou o sinal vermelho sem o menor sinal de afetação.

Já eu, presenciando a fúria do mendigo ignorado, tive o medo redobrado. Foi só o sinal abrir que disparei em uma corrida no lugar seguro mais próximo: a banca de revista.

Entrei naquela banca, branca. Joguei a bolsa no chão, abaixo dos jornais. Enquanto meu amigo, o qual dou boa noite sempre que passo por lá, começou a perguntar:
- Olá, deseja alguma coisa?
- (Eu não conseguia falar.)
- Quer uma trufa?
- Só balançava a cabeça.
- De cereja, coco, brigadeiro...
- E eu ainda pálida, tentando recuperar a cor.
- Tem também de prestigio, abacaxi, branco...
Quando o mendigo passou me procurando, mas não conseguiu achar.
- Ah, você veio foi se esconder?
Enfim, consegui pronunciar as minhas palavras: - siiiim.
- Não se preocupe, é só um mendigo. Vai querer trufa?
E eu meio sem jeito: - hoje não, obrigada.

Andei mais os 3 prédios que me afastavam de um banho de lavar a alma. E o guarda-chuva? Nem sei porquê estava com ele neste calorão da porra.

Um comentário:

E o sonho continua disse...

Ai Ellen credo, que medo. Esse nosso mundo anda cada vez mais perigoso. Outro dia o Lele queria voltar a pé do inglês e lembrei que um ex aluno levou um tiro perto da escola de inglês, daí eu disse pro Lele que eu o levaria de carro....mas até quando vou proteger meus meninos???Mundo cruel!!!Deus te proteja sempre aí, minha querida....