quinta-feira, 12 de abril de 2012

São Bernarda

Hoje já vim de sapato baixo, trouxe um bom livro, uma lanterna, caso eu tenha que passar por mais uma aventura como de ontem a noite.

Às 3h da tarde já havia acabado a energia. Para minha "sorte" o meu computador é diferente da máquina dos meus colegas pois ele é ligado a bateria (que estava 100% carregada). Para completar, eu sou a redatora, e só preciso de cabeça, caneta e papel para continuar trabalhando. Então não tem desculpa.

Minhas amigas resolveram assistir um seriado, enquanto eu fiquei olhando para a chuva lá fora. Sempre gostei de observar a chuva. Desde que eu esteja em um lugar seguro, até as pedrinhas de gelo que caem com ela são de alguma forma um espetáculo da natureza. E foi olhando pela janela que vi a rodovia, logo ali na minha frente, formar o maior congestionamento que São Paulo já teve. Em poucos segundos, toda aquela minha felicidade foi por água a baixo.

2 horas depois, minha amiga rsolveu perguntar para o chefe por mais quanto tempo teríamos que esperar. Eu já estava consciente que, liberada ou não, arrumaria as minhas trouxas o mais rápido possível. Me despedi e lembrei que trabalho no sétimo andar. Isso significa 14 lances de escada no escuro, mais o mezzanino, se formos contar pra valer. Um colega ajudou a iluminar o caminho com o celular. Péssimo dia para eu estar de salto, pensei. Mas me agarrei ao corrimão e a toda minha coragem (pelo menos, não tenho medo de escuro).

Lá embaixo, a chuva ainda caía. Mas era melhor eu esperar no ponto, antes que o ônibus me surpreende-se e eu tivesse que correr até lá. Fiquei um tempo tentando arranjar um lugar entre tantas sombrinhas. Sorte minha não ser apegada a chapinha, porque a essas horas já estava com o cabelo encharcado.

Foi nessa hora que minhas amigas passaram por mim (e quase nem me viram) seguindo em direção ao bar. Relutante (porque essa já não tinha sido uma boa semana) pensei se deveria acompanhá-las ou esperar não sei quantas horas para enfrentar a lotação. 1 hora e 20 depois e nada. Fui para o bar.

Era noite de double chopp, mas elas preferiram algo mais leve. Conversamos muito, confidenciamos bastante, até eu ficar menos ranzinza e assumir que, às vezes, é ótimo um encontro só de meninas. Mas quando me deu a louca, impedi que elas pedissem uma batatinha, pedi a conta e decidi que já era hora de ir. Ser a mais velha tem disso #boring.

De lá, andamos alguns muitos quarteirões atrás de um táxi. Parávamos em alguns pontos para descansar, mas nada de algum estar disponível. Então resolvemos atravessar a rua e voltar todo o caminho percorrido. Atenção: nessas horas a Fer já tinha torcido o pé tentando imitar a Van que fazia o sinal de pedestre pra atravessar a rua como se fosse a mulher invisível. Eu que já não tenho tanta confiança que é só pedir e motoristas estressados em um trânsito caótico com semáforos quebrados vão parar para mim, acho melhor não arriscar.

Depois de todas as tentativas pra fazer um táxi parar. Ganhamos um no berro. Ao indicar o caminho, ele foi firme: - Moças, por aqui não dá que caiu uma árvore. - Por ali, nem pensar que engavetaram 6 carros. - Nem pense em querer virar nesta esquina, não cabe mais nenhuma mosca. Com isso, andamos 3 quarteirões (para o caminho oposto das nossas casas com o taxímetro rodando forte)e tivemos a brilhante ideia de pagar o motorista e voltar para a chuva. Não ia dar, fazer o quê?

De volta, do ponto de partida, depois do ônibus e do táxi, era a vez do trem e do metrô. Já fazia 3 horas que tentávamos ir pra casa, não íamos desistir tão fácil. Acho que era a primeira vez que a Fer andava de trem. E para não ajudar, eu coloquei minha bolsa no pescoço, como se ali tivesse menos chance de ser roubada. Ela, imediatamente, abraçou a dela, como um bebê que precisava de segurança. Mas na verdade, não era bem isso que me preocupava. Eu sabia que teria que correr muito e seria melhor ter as mãos livres.

Logo no começo descemos alguns degraus em disparada, mas, por causa de mim, não conseguimos pegar o trem. Que bom que esperamos pouco. O tempo suficiente para avisarmos, cada um a sua família, que ainda nem tínhamos saído do lugar. No próximo, garantimos um lugar. A ponto de esquecermos que havia passado há muito a hora do rush, por isso dava pra sentar e elogiar o ar-condicionado.

A baldiação já não foi aquelas coisas. Resolvemos pegar um elevador preferencial, ao invés, de enfrentar o meu medo de altura nas escadas rolantes. Eram 5 andares. Minhas amigas são bastante parceiras nessa hora. Ficamos contando como 3 comadres as proezas da Júlia (como se a minha barriga fosse mesmo de gravidez) e do Dan. É bom ter um pouco de compaixão em 1 metro quadrado.

Ao sair do elevador, o metrô já estava nos esperando. E recomeça a correria. Tocou o sinal que as portas estavam fechando, e as meninas, leves, serelepes, em um salto conseguiram ir para dentro. Eu, que havia até chegado antes, não consegui entrar. Minha cabeça não comandava os pés. E a última imagem que vi foi a boca da Van se movendo (sorte que sou ótima de leitura labial) e dizendo: Pegue o próximo e ande 1 estação. Desceremos lá pra te esperar.

Foi o metrô sair e eu me dar conta da estupidez humana que comecei a gargalhar sozinha. O acesso de riso aumentou quando a Van me ligou dizendo que tinham pegado a direção errada. Só faltava essa! Do outro lado da linha ela pedia: Para de rir e me escuta. Tem uma escada do seu lado direito, sobe ela, depois desce, e nos encontre do outro lado. Estamos voltando para aí.

Subi. Desci. Contei o número de vagões proporcional. E no meio de uma multidão (não imagino de onde saiu tanta gente) vi as meninas fazendo sinais compulsivos para que dessa vez eu entrasse. Quando a Fer me viu já não estava achando muito divertido e soltou uma: "foi Deus que te colocou na mesma direção". Achei melhor nem explicar. Tava engraçado demais.

Várias suvaqueiras depois (um fedor violento e irrespirável), vimos a luz. Nesta hora a nossa guia se separou da gente (que triste), e liguei para o meu marido vir buscar a gente. Estava a 7 quarteirões de casa (mas a Fer tava com o pé torcido, lembram?) e ele demorou 40 minutos só neste trajeto. Drama. Drama.

Cheguei em casa já eram 10h da noite (5 horas depois de ser liberada, vale lembrar). Mas cada minuto valeu demais. Eu me senti um São Bernardo, aquele cão grande, pesado, que carrega sua própria bebida no cantil (porque sim, eu estava bêbada de tabela) precisa dar segurança, mas ao mesmo tempo recebe um monte de mimos e atenção.

Um comentário:

*** Tata *** disse...

uauuu que aventura hein amiga!!! eu trabalhei ate as 9 da noite e como moro megaaaa longe em 15 min estava em casa rs
ontem nao acabou a energia aqui na Paulista, mas hj de manha, sem chuva sem nada, ficamos quase 2 horas sem energia =(
bjooo