segunda-feira, 4 de junho de 2012

Não se atreva

Vai por mim. Se você mora com alguém que sabe cozinhar, não se atreva a preparar sua gororoba preferida. Nem sempre uma colher de requeijão pode salvar seu prato de uma verdadeira catástrofe.
Ah, e não vá pensando que é só acender 2 velas e apagar as luzes que você terá um jantar romântico.

Quinta eu li no horóscopo que meu Domingo seria super romântico. Tinha haver com a lua cheia ou uma predisposição para o amor. Aflorado ou não, eram 6h da tarde e lá estava eu, na cozinha, lavando a louça do dia anterior e com a brilhante ideia de, desta vez, ser eu a cozinheira. Eu faria o nosso jantar. Ele topou.

Colocou uma música das antigas e ficou dançando sozinho na sala, contemplando a beleza da letra, da melodia, da voz, do momento. Devo confessar que deu vontade de largar tudo e dançar com ele. Não é sempre que o espírito da valsa desce lá em casa.

Me mantive firme. Enquanto eu cozinhava sua massa preferida (spagueti) e em outra panela o que eu gosto (parafuso), cortava na mão cada pedacinho de alho, delicadamente.

Era hora de arrumar a mesa. Eu queria empratar, enfeitar com folinhas, pimenta, queijo ralado e servir. Mas foi só puxar o forro para um vaso, vermelho, enorme, cair no chão e espatifar em mil pedaços. Foi meu primeiro corte na mão. Uma raiva descomunal. E o marido falando: não bata a vassoura muito forte no chão pra não atrapalhar os vizinhos. Enquanto isso, a massa no fogo passando do ponto.

Quando consegui varrer o último caco e definitivamente desistir de arrumar uma mesa linda, escorri a água do macarrão e fui fritar o alho. Tudo estava, relativamente, correndo bem. Só que não tinha óleo, não tinha azeite e não tinha manteiga. Lá vai eu ter que apelar pra manteiga do sertão. Esquentei no microondas. Joguei uma quantidade qualquer na frigideira. E o macarrão logo atrás, antes que todo alho queimasse no fogo alto.

Coloquei a panela na mesa e perguntei se o marido não ia comer - Dizem que massa fria não desce bem - foi quando ele resolveu dizer que ainda não estava com fome. Então por que raios me deixou fazer??????

Respirei fundo e pedi que ele provasse apenas uma colherada. Ok. Consentiu. Mas logo me arrependi quando ele provou e CUSPIU rapidamente no prato. Sim, no prato cheio. Sem a menor dó.

Me sentei. Olhei no fundo dos olhos dele. E falei: - Não pode estar tão ruim assim.
Peguei um garfo e procurei algum vestígio não cuspido da massa. Era minha vez de provar. Arghhhhhhh, realmente, estava detestável. Não dava pra engolir.

Me levantei (fingindo não estar ofendida) e tentei salvar a massa de parafusos, quebrando uns ovos e colocando requeijão. Servi um novo prato e ele ODIOU novamente. Disse que era óbvio que eu nunca faria algo bom na cozinha. Que nasci pra escrever, não para cozinhar. Foi quando arranquei o prato das mãos deles e engoli todo o macarrão. Cada garfada era misturada com um choro compulsivo e doloroso, e alguns soluços que não dava pra segurar.

Ele continuava dançando. Tentando fazer com que eu me alegrasse. Mas não acho que seria possível. Uma mão não parava de sangrar, a outra estava suja de manteiga e cheirando alho. Quando ele finalmente conseguiu me tirar para dança, pousou sua cabeça em meu pescoço e disse: - Nossa, você está fedendo. Gosto mais de quando você fica cheirosa, maquiada, descansando no sofá.

Imediatamente fui para o banho. Lavei o cabelo. Me perfumei toda. Mas quando saí a música não estava mais tocando. O marido estava na cozinha tentando salvar seu prato de macarrão. E na TV, passava Faustão. Bela maneira de encerrar uma noite, não acham?





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