segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A nossa vizinha

A única certeza que sabemos sobre ela é que é do Rio de Janeiro. Pelo menos, o sotaque não engana que tenha vivido algum tempo lá, outra coisa que não dá pra negar é sua preferência por Sssssskol e homens casados. Este último não posso dizer se foi uma escolha ou mera falta de sorte. Falta de opção que não foi.

A moça pode não ser a próxima rainha da bateria da mangueira, mas é sempre muito atenciosa (quando subimos junto o elevador) e cheia de sorrisos (se trombamos em algum lugar na rua). Normalmente isso acontece quando estou voltando para o conforto do meu lar com as sacolas de supermercado para preparar a janta e ela está saindo do conforto do seu lar para malhar, malhar, malhar (a língua ou os glúteos, a ordem tanto faz).

No começo, meu marido e eu, adorávamos confabular estórias divertidíssimas sobre a mulher da porta ao lado. - É uma empresária do setor de imóveis - ele dizia. - Não, não, é uma consultora de moda - arriscava eu.

Umas indas e vindas mais tarde, quando a porta da casa dela não parava fechada tamanha a quantidade de visitas de mulheres, homens, hippies, alternativos, engravatados, patricinhas, loucas de pedras, começamos a mudar de opinião, desta vez aos sussuros. - Ela é massagista - ele dizia. - Está mais para profissional do sexo - sugeri.

Milhares de incensos depois, quando ela saía para colocar o lixo na esquina e deixava seus gatos escapulirem deixando a porta semicerrada, dava para ver que não tinha nenhum móvel lá dentro e talvez estivesse só de passagem ou ali fosse um lugar para os pombinhos se encontrarem em anonimato, apesar de eu não acreditar que aquelas brigas de final de semana fossem algo discreto.

Tirando às vezes que a campainha da nossa casa era tocada por engano em plena madrugada, ou quando sua porta batia fortemente em sinal de fúria, nada nos incomodava. Então por que estou escrevendo este post?

Porque ontem, descendo rumo ao supermercado, a vizinha abriu a porta na mesma hora, reparou nos meus cabelos e disse: - Você fez luzes? Eu sou cabeleleira das minhas amigas. Quando precisar de uma mãozinha. Compra um tonalizante loiro pra dar um up no visual. Não é tinta, viu? Tonalizante.

E quando voltei para casa fui logo comentando: - Ela é cabeleleira.
- Hummm, então não é empresária?
- Bom, eu tenho uma amiga que também é cabeleleira, mas como tem seu próprio salão, também é empresária.
- É, como vamos saber se ela só não falou isso pra puxar assunto?
- Bem, jamais saberemos. A não ser que você queira acabar com a brincadeira de adivinhação, porque eu não quero.

Ou seja, é melhor eu escrever logo sobre ela, porque depois que se tornar minha próxima amiga de infância pode perder a graça.

2 comentários:

karoline disse...

Amei a fotinha nova!!!
(o texto tambem)
rsrsrsrs

Ellen Pitillo disse...

Obrigadaaaaa prima. Fotinha nova velha, mas foi de um momento muito legal que gosto de lembrar.