sexta-feira, 27 de março de 2009

essa menina

Ele era o menino mais inteligente da turma. O menino que ficava ali no canto dele, sem aparecer muito e que adora as trancinhas e o macacão dela.
Era magro, desajeitado, tinha as sobrancelhas juntas, mas que deixavam seus olhos de mel ainda mais fortes e misteriosos.
Ela era normal. Isso mesmo, estudiosa, verdadeira, romântica, família.
Um dia eles dividiram um melzinho na feira do sol. No outro, passaram a andar de mãos dadas no shopping. E aí, quando ela se sentia ansiosa era só esticar os pés debaixo da cadeira da frente que ele vinha logo com uma massagem ou uma cosquinha que a fazia sentir protegida.
Ele ensinou que não existe diferença entre homem e mulher. Por dentro, era tudo igual. E ainda que isso parecesse mais uma tática de sedução (ele sabia muito bem como usá-las), fez com que o mundo de permissividade e companheirismo se abrisse aquela menina. E mesmo que ela nunca tivesse dito que estava apaixonada antes de ter visto o que perdeu, ela cumpriu o que prometeu: nunca mais se esqueceria dele.


Ele era o garoto mais brincalhão da faculdade. Todo mundo o conhecia. Estar perto dele era como se tornar a “rainha do baile”. Era fazer parte da turma mais criativa. Como se ela agora pudesse usar aqueles moletons de time, mas no caso dele, sua jaqueta de couro ou o sobretudo que alcançava os pés.
Ela odiava os suspensórios dele. Ele tocava gaita muito mal. Sua coleção de relógios antigos não a deixava dormir. E a fascinação pela cultura japonesa às vezes passava dos limites.
Mas em compensação tinha as espadas para matar qualquer um dos seus dragões. Ele dançava mesmo sem música e nunca se esquecia de convidá-la. Na casa dela nunca faltavam gérberas e trufas de chocolate. E cada dia ele a desenhava de todas as maneiras possíveis, expressões, humores, tamanhos, nanquim, guache, aquarela.
E o mais importante: eles nunca, nunca brigaram.


Ele era o homem mais petulante do trabalho. Chegou com seu nariz empinado, olhar arrogante, pouco papo. Quase nunca abria a boca.
Um dia colocou pra tocar músicas da Xuxa e Balão Mágico. No outro, pediu para tirar uma foto com a menina e fez uma montagem linda. No outro, começou a ler poemas de J. G. Araújo. E aí, tomou coragem para convidá-la a ir num show sertanejo (ele era do rock) que custava mais do que o seu salário. E também tomou coragem de mostrar que ele não era nada daquilo que ela imaginava.
Ele provou que estava apaixonado pelo sorriso dela. Ela provou o melhor beijo que já tinha experimentado. Ele disse que ela deveria gostar de quem gostava dela. Ela decidiu então, abrir seu coração por uma última vez. Eles brigaram, brigaram, brigaram até essa paixão virar amor. E quando virou decidiram mudar para bem longe de todos. E em outro País descobriram que não conseguiriam mais viver sem o outro. Ele é o melhor cozinheiro que ela já conheceu. Ela é uma péssima dona de casa, mas uma companhia adorável. Ele não gosta muito de dormir, mas odeia acordar cedo. Ela passa o dia pensando quando ele vai chegar em casa e acha os pés dele tão macios. E com isso, das duas certezas que ele tinha na vida, uma está prestes a acontecer: vão se casar.

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