segunda-feira, 26 de outubro de 2009

parati paravocê

Sem vocação para programas de índio. Eu e o nego mais uma vez nos lançamos em uma forte aventura. Cheia de altos e baixos, literalmente. Na sexta a noite, prevendo um final de semana daqueles de esquentar a bunda no sofá, resolvemos investir o dinheiro de um freela em uma viagem que ansiávamos desde o ano passado: qualquer lugar que não conhecíamos desde que tenha mar. Movidos por este desejo nem conseguimos dormir. Às 2h da manhã já estávamos de malas prontas dentro do carro. 563 quilômetros, uma previsão para 6 horas nas rodovias Anhanguera, Pedro I, e Dutra. Apesar da madrugada e dos pedágios exarcebados, a viagem seguiu tranqüila. O sono não veio e o sol nasceu mais cedo do que o imaginado. No entanto, só 93 quilômetros na estrada de Cunha já estaríamos na praia. Foi quando uma placa bem grande no meio da estrada anuncia: CUNHA INTERDITADA. E começa uma investigação que até hoje não foi solucionada. Depoimento do frentista: - É buraco que não acaba mais. Pouca gente consegue chegar. Ixi, você tem um kázinho? Não chega nunca. Depoimento de um senhor corajoso e lelé da região: Tá interditada, é? Essa placa deve estar lá faz anos. Eu iria. A prefeitura não vai arrumar mesmo! Depoimento da atendente do pedágio: Segue pra Barra Masa, Segue pra Manda Mansa. Nem pense em virar em Cunha. É só um pedagiosinho a mais. Você vai me agradecer. Depoimento do rapaz do SOS: Óh, você tem que voltar 260 quilômetros, mas eu iria por Ubatuba. Rio é arriscado. Enquanto isso meu braço direito já pegava fogo apoiado a porta. O sol estava esquentando e meus ânimos também, fervendo. Foi quando o nego resolveu me perguntar: O que você quer fazer? Eu chorei, né? Não tinha nada mais que eu queria fazer além disso. Chorei, chorei... olhei no espelho, aquela cara de arrasada, peguei a maquiagem na bolsa, enchi o rosto de pó de arroz, e contrariando a todos, decidi: -Não vamos voltar. Siga em frente. Sempre quis conhecer o Rio de Janeiro.
Bom, meu Rio não era aqueles morros sinuosos sem fim. Meu Rio não demorava 1 hora pra atravessar 7 quilômetros. Não chovia no Rio que sempre sonhei. Lá eu iria ver a Xuxa, o Cristo, não as favelas. Foi por essa e outras coisas que nem chegamos no Rio. Mas Barra Mansa, uma cidadezinha que precisamos contornar antes de chegar na capital, parecia mais Barra Pesada. Quando o nego falou, abaixa que vamos subir. Ele não estava brincando. A vizinhança era tão mal encarada que eu só rezava pra rua ter saída. Como estou aqui agora vocês sabem: tinha saída.
Passamos por Angra dos Reis, com belezas nada hospitaleiras. Passamos por Lidice. Passamos por Paraty. Isso mesmo, passamos direto. Não bastasse a viagem de 6 horas ter se transformado em uma de 14 horas e meia, viajamos 23 quilômetros a mais. E só percebemos que a cidade tinha ficado para trás quando estávamos novamente na divisa: Rio – São Paulo. Algo maior que a gente não queria mesmo que ficássemos ali. Prova disso, era que se tivéssemos continuado, em pouco tempo estaríamos em Ubatuba.
Depoimento do mocinho que vende pássaros de enfeite pra varanda: - Cunha, cunha dá pra passar sim. Muita gente já chegou viva.
Hahaha. Vai tomar no Cunha, né?
Enfim, demos meia volta e vimos porque tínhamos passado de Paraty. Ela é uma cidade minúscula, no meio do nada, de frente para o mar, que por sua vez é de frente pra tantas ilhas e morros que nem se parece aquele mar infinito, que a gente está acostumado, de se misturar com o horizonte.
No entanto, estamos aqui. Que lugar lindooooooo! Era o melhor que tinha pra exclamar. O dinheiro já tinha ficado no pedágio mesmo. Agora era apreciar a natureza.
Fiquei imaginando como minhas amigas me xingariam se tivessem aceitado meu convite e ido comigo. Mas estávamos só eu e o nego. E como sempre nos metemos nessas enrascadas, chega até a ser divertido. E foi. Ficamos um dia na praia. E entre perdas e danos, volta eu parecendo um camarão pra casa. Mas muito feliz. Não foi de todo ruim. Fiquei sabendo que aqui fez 38 graus na sombra.
Depois que já não deu certo surgem vários conselhos dos colegas de trabalho: você deveria ter levado uma baraca, deveria ter pego um barco e conhecido as ilhas distantes, puts, deveria....ter me falado que conheço um museu ótimo lá. Ou seja, eu não deveria ter ido pra lá.
Meu conselho PARATI: - Se depois te tudo isso ainda quer conhecer? Não vá por Cunha.

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