sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O que o calor não faz

Os ânimos já estavam bem alterados com um feriado emendado e sem dinheiro para viajar para Goiânia. A família toda reunida, no aniversário da minha mãe, tomando sol na beira da piscina, era uma imagem que vira e mexe voltava a me atormentar. Eu não estava lá e depois do quarto dia praticamente presa dentro do quarto, dividindo as horas com uma angustiante gastrite e uma cólica maldita, meu marido me convidou para dar uma volta a pé na Paulista e fechar o passeio com um delicioso sorvete da esquina. Foi então que tive a brilhante ideia de usar o décimo terceiro que estávamos guardando para nossa primeira viagem de cruzeiro juntos. Um dia a gente faz esta viagem.

Mas ainda não estava calor. A noite se acostumou a cair em chuva e inundar tudo pela frente. Os raios e trovões foram de dar medo, mas isto não passava de anunciação: aguarde que de onde saiu esta tempestade tem muito mais. Minha sogra voltou para Goiânia. Minha cunhada se mudou para o meu quarto. E eu estou provisoriamente tentando dormir no meu irmão. A visita da semana é meu amigo Hugo com os dois filhos, de 8 e 10 anos. E apesar das minhas melhores amigas não acreditarem absolutamente nas minhas intenções, confesso que vieram trazer uma paz que há muito eu não sentia. São crianças, mas quando volto do trabalho e eles pegam na minha mão para atravessar a rua, ou dizem: tia, você está tão bonita, ou mesmo dividimos um brigadeiro de panela que eu não fazia há 2 anos, algo me diz que teremos um final de semana mais animado do que o passado.

Cheguei no meu irmão por volta da meia noite. Esbarrei com ele e minha irmã descendo pelo outro elevador. Ela tinha acabado de chegar de viagem e ia levar as amigas pra conhecer as baladas de São Paulo. Eu já estava até de pijama. Entrei no apartamento dele e fui ligando todas as luzes. Com a tentativa fracassada de fazer a TV funcionar, foi a vez de desligar as luzes. Cheguei ao quarto, arrumei a cama deles, troquei o lençol, procurei por travesseiros, e depois de tudo isso percebi que sem outro banho não conseguiria dormir. Quem já foi no meu irmão sabe que o banho é gelaaaaado.

Deitei no canto da parede. Lembrei que o canto é do meu irmão. Mudei o lado da cama. Lembrei que minha irmã só dorme com travesseiro fino. Dei meu travesseiro pra ela. Peguei o ventilador do outro quarto. Liguei em um transformador. Quando eles chegarem vão tropeçar no fio, e o ventilador vai cair da cadeira. Coloquei em outra tomada. O vento vinha direto da minha cabeça. Coloquei pra circular o ar. Aí fazia uma barulho no fim, tipo: ummmmmmmmmmmmmmmm, clic. Ummmmmmmmmmmmmmmmm clic. E o clic em uma freqüência cada vez mais alta. Abri a janela. É emperrada, então precisa de força e não dá pra abrir com os pés. O barulho da rua era maior do que o clic. A luz que vinha de fora também. Não durmo com nenhuma luz, não consigo. Tentei colocar a coberta. É fininha, ta velha. Preciso de um pouco de coberta encostando na minha perna. Nem isso consegui. Abri a porta, olhei no relógio. Tomei outro banho. Gelaaaaaaado.

Finalmente. Consegui. Virei na cama e pensei: devo estar em cima do meu irmão. Acordei de supetão. Não queria incomodar. Era só meu celular/despertador. 3h. Eles ainda não chegaram. Vou colocar um colchão no chão. É isso. Arrasta malas. Coloca roupas de cama no colchão. Meu Deus, que maravilha. Como não pensei nisso antes? Minha irmã abre a porta. Que calor é esse? Posso deixar a porta aberta? Pelo amor, isso não. Porta aberta não. Ela pega o pijama e diz: Tá escutando? Minha amiga voltou mal. E é descarga, vômito, tudo junto.

Dormi. Eram 4h35. Lembro de ter olhado o relógio uma última vez. Estou sonhando, que maravilha. Meu Deus, minha sogra voltou para o sonho. Ela foi ontem e já voltou? No sonho ela tentava apaziguar quando descobri que meu marido se apaixonou pela filha de uma amiga dela. A Ligia era a amiga. A Cristina era a filha e que por algum motivo tinha encantado o meu marido. E ela falava: você estava muito estressada esses dias. Eles se conheceram. Foram olhar mesas antigas. Eu só lembro que ficava uma luz piscando na minha cabeça a palavra ANTIQUÁRIO. Meu marido chegou, fui perguntar se ele tinha achado alguma mesa, na total ironia, e minha mãe liga dizendo que minhas tias Gislene, Elaine e Maristela morreram. E eu falava: - Mãe, fala mais alto, nao to ouvindo. E ela falou. E eu ouvi, mas repeti chorando: - Pode falar mais alto, por favor?

Acordei chorando. Olhei o rosto do meu irmão, tão lindo, tantas saudades, na cama ao lado. Pensei: - Será que meu marido saiu? Chorei um pouquinho, sem querer, lágrimas quentes. Voltei a dormir e nem vi as poucas horas que restavam passarem. Não precisei do despertador. Acordei com sede. Liguei várias vezes para casa e nada. Então, resolvi pegar um ônibus. Demorou um pouquinho. Corria muito. Eu estava de saia e salto alto. Bom, quebrou. Desci para pegar outro. Esperei mais um pouquinho. Cheguei no serviço 40 minutos atrasada e pingando. Cabelo preso, coque alto.

A hora do almoço não demorou a chegar. Todos saíram. Foi quando percebi que esqueci minha marmita e não tinha nenhum centavo na bolsa (o quê, a esta altura, não é novidade). Tudo bem. Está tão quente. Não queria sair mesmo. Fui ao banheiro. Dei descarga. Ninguém me avisou que estava entupido. Mais uma. Água para todo lado. Uns pulinhos inúteis para não molhar meu sapato novo. E agora? Mãos no rodo e detergente. Tenho 2 horas de entretenimento. Toca o interfone: - Minha senhora, tem dois rapazes querendo subir para consertar o ar-condicionado. Pode mandar subir. Depois de 40 minutos de termos técnicos: - Óh, o que falta é pressão. Trago mais gás lá pela quarta.

Pressão? Ah tá. Volte sempre.

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