quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A virada

Há 2 quarteirões e meio da praia, uma cadeira de plástico suja do sol da manhã, uma saia de camurça caramelo que ninguém sabia que estava na última moda, uma regata verde que o horóscopo disse aconselhável para os nativos de Gêmeos e que muitos achavam que eu escolhi por desejar esperança, mas que quem me conhece ficou de sobrancelha em pé por ser a cor que menos gosto. E para finalizar uma calcinha branca, modelagem européia, que minha vó ganhou e não usou, mas eu quis colocar (pra nunca mais) em homenagem a tudo ter corrido bem em sua cirurgia. Era uma noite para celebrar, já que no Natal ela ainda estava hospitalizada e passou sozinha com minha tia e o Papai Noel.
Andamos um pouco até chegar ao palco principal instalado em Long Beach. Meu marido pediu para que eu evitasse de contar para as pessoas que desta vez fomos a uma praia tão mal falada, mas eu precisava comentar: foi melhor do que o esperado. Não faltou água, não foi tão difícil achar um apartamento para alugar mesmo em alta temporada, não choveu, e apesar de a rotina ser praia, montar barraca, comer pastel, desmontar barraca, dormir, almoçar, dormir mais um pouquinho, ir a feirinha e recomeçar um novo dia, foram 5 dias bem gostosos com minha família. Tudo bem que faltou minha irmã e meu cunhado (as pessoas que mais gostam de praia na minha opinião) mas eu sabia o que ela ia dizer quando visse tanta sujeira, a mesma coisa que meu irmão disse quando viu tanta gente feia. Eles são incompatíveis a isto.
Tanto que meu irmão resolveu passar a virada em São Sebastião, motivo que me fez perder a noite de sono de quarta para quinta, tentando bolar uma maneira de convencer o meu pai a deixá-lo ir sem maiores dramas. Não foi um dia fácil. Fomos para Santos mudar os ares mas acabou chovendo. Resolvi caminhar sozinha pela praia. Foi o que me acalmou um pouco e me fez pensar no que eu realmente desejada para o próximo ano. Nada de grandes mudanças, a vida estava ótima, mas um pouquinho mais de compreensão. Que os momentos bons não passassem tão depressa, e que os que mereciam ser esquecidos nem chegassem a existir.
Voltando ao momento da virada, todo mundo de branco, dançando ao som de músicas baianas e um grupo de bailarinos malhados (me enganaram quando disseram que seria o Exaltassamba) e um céu iluminado nos coroava com grandes espetáculos de fogos de artifício. Olhar para o alto. Ficamos 2 horas em silêncio olhando tanta beleza. De repente a contagem regressiva, quase fui pega de surpresa já no 4, 3, 2, 1... Abracei o meu pai e logo atrás veio o nego e minha mãe. Em um abraço quádruplo ficamos ali, parados. Até que a chuva despencou do céu. Saiu gente correndo pra todo lado. Era mesmo um temporal. Me perdi dos meus pais, voltei pra casa pela praia, descalça, ensopada, curtindo esse banho que certamente veio para abençoar tudo. Pulei 7 esgotos, ao invez de pular as 7 ondas. Pensei na minha avó. No vestibular que meu marido tinha passado. Na vez de realizarmos juntos os sonhos dele. Nos meus amigos sempre queridos. E tudo de bom que 2011 nos espera.
Em 10 minutos eu estava novamente em casa, tomei um banho, dormi de cabelo molhado e acabei com uma baita gripe, mas valeu a pena. Está valendo.

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