quarta-feira, 6 de abril de 2011

De volta

Eu tinha que levar o notebook em uma viagem de 9 horas. Finalmente o notebook estava consertado depois de meses. Custou bem mais barato por termos recuperado os arquivos em uma cidade do interior. Na capital, é o quádruplo do valor. Na capital, não recuperariam as fotos de 1 ano morando na Europa. Eles iam priorizar o portfólio. Pode ser mais útil algum dia. Se desta vez eu fizer logo um backup. Ficou mais barato ainda porque foi meu pai que pagou. Assim como o ônibus que peguei pra ir vê-lo no final de semana, para comemorar o aniversário surpresa.

O ônibus que foi bem confortável na ida, apesar de eu não dormir a noite como antigamente. Mas que não era o mesmo ônibus da volta. Este não tinha 2 andares. Este não cabia minha mochila na parte de cima. Será porquê a mochila voltou com 3 calças a mais, 2 camisas, um presente pro nego, um vidro de pimentas com vinagre, e o notebook com o carregador? Pode ser. Mas agora eu teria de aguentar as consequências.

Uma delas era levar a mochila nos meus pés, sem me esquecer que em 9 horas eu não poderia pisar sobre ela nem uma vez. Por isso fiquei com os pés no ar. O joelho um pouco mais alto. E o careca da frente baixou o banco como se não se importasse de estar deitado no meu colo. Não literalmente. Mas estava. Eu fitei a sua testa durante todo o percurso. Fitei a testa pra não me concentrar no ronco. Aliás, todos roncavam.

Mal saímos da cidade e todos naquela sinfonia bafenta. Menos um senhor. 80 e poucos anos. Um grito desesperado e sem ar com o menino do lado. "- Me deixa levantar. Preciso ficar de pé. Não sabia que era tão abafado". E o menino todo preocupado, embora sonolento, começou a cuidar dele como a um avô. "- O senhor está com 2 blusas, tire uma. O senhor quer uma maçã? O senhor quer trocar de lugar comigo? O senhor quer uma almofada que molda no pescoço? Pode usar. Tenho 2. É muito boa. Você vai melhorar, só faltam 8 horas e 42 minutos."

Bom saber, pensei eu. Um pensamento um pouco alto, eu acho. Porque o moço que estava sentado do meu lado, de 2 metros e alguma coisa, que também não conseguia caber, disse: "- Vai ser dificil. Meus joelhos já estão doendo." E eu queria responder: É, não cabe. Tente pensar na sua namorada que ficou pra trás, toda chorosa e ciumenta, fazendo coraçãozinho Restart enquanto o ônibus deixava a rodoviária. Mas eu só disse: É. E pensei em como sou antipática. Tadinho dele, tentou ser simpático, tentou ser complacente com a nossa dor. Mais dele do que a minha dor. E eu disse: É.

Pelas tantas meu documento caiu. Eu não podia me mover. Já comecei a imaginar as horas na fila que eu perderia fazendo outra carteira de motorista que demoraria meses pra ficar pronta e eu precisaria dela no próximo dia, pois eu tinha um exame de colonoscopia, e isto.... bom, forcei minha mão, estendendo cada dedo, contraindo os músculos, até que achei o documento. O que a gente não é capaz de fazer quando visualiza um dedo no cú.

O busão ainda atrasou um bocado. Só podia ser motorista mineiro mesmo. Disse para a mulher que tentou parar no km 53: "-Se eu parar pra você vão começar a abusar. Já entramos na civilização minha querida, e não sou táxi". Se fosse comigo eu ia chorar. Mas bem que achei um tanto engraçado.

Não tão engraçado quanto na manhã anterior, quando fui comprar as calças com o meu pai na boutique, e a dona me convidou pra ser modelo das suas roupas Moda Maior. O que tinha tudo para ser um elogio, resolvi encarar como o fim da picada. Apenas agradeci o convite dizendo: "- Eu não moro em Uberlândia". E ela: "- Nem por mil reais por desfile?"

É gente, contrariando a todos que disseram que o exame seria tenso, foi super tranquilo. Nós mulheres sofremos muitooo mais durante o mês do que em um dia qualquer (ainda mais liberada do serviço). Afinal, eu estava dormindo mesmo. Se me violentaram, só se foi no bolso: - Seu plano não cobre a biopsia do polipto.

Ainda bem que meu notebook voltou. O jeito é googlar: NOVAS MANEIRAS DE TE ROUBAR ENQUANTO VOCÊ DORME. E torcer para a doida que disse: não se preocupe, é uma espécie de câncer mas pode ser beligno, se aposentar o quanto antes.

2 comentários:

Vanessa disse...

Mesmo com a desgraça sempre faz a gente rir! ahahhaha
adorei!

infinito particular disse...

É .....