quarta-feira, 20 de abril de 2011

Em assalto

Eu já sabia que ele era do mal. Pagou o cobrador mas passou a catacra como se não tivesse jeito de abandonar aquele clima pesado em que viveu os últimos anos.

Algumas tatuagens cobrindo todo o braço, um olhar de rabo de olho, uma voz forte:
- Boa noite. Meu nome é Edevaldo Pereira. Sou ex-presidiário de Campinas. E acabo de cumprir minha pena de 8 anos por roubos a mão armada. Só percebi o mal que fiz quando voltei para casa e encontrei meu filho que deixei com um aninho de idade, já moço, me cobrando atitude. Desde então, saio todos os dias a procura de emprego, mas a sociedade não entende. Marginaliza os detentos que estão em liberdade condicional. Por isso, tô aqui hoje para pedir...

(Pronto, chegou a hora que eu sabia que ia acontecer. Ela vai pedir a carteira, a bolsa, o celular, o tênis, as meias.... Meu Deus, ajude ele não pedir o corpinho também).

E continuou: - Tô aqui para pedir que pensem nas suas vidas, se estão no caminho certo. Para não fazer nada que se arrependam depois.

Fez-se um silêncio anterior aos aplausos da platéia. Como se ali tivesse terminado a grande encenação. Mas o cara da vida real apenas foi embora. Pagou 3 reais para dizer como a vida não dá uma segunda chance e abandonou o espetáculo.

Hoje não vim com minha bolsa preferida, mas trouxe uma moedinhas caso alguém venha com outro discurso deste e fique irritado comigo por eu não ter nada para dar.

Um comentário:

Vanessa disse...

Acho que a missão dele agora é fazer as pessoas pensarem se estão valorizando cada segundo da vida. Né? Pelo menos a boa intenção restou pra ele.