A linha da vida

Um dia a Taís me chamou para ir a casa dela. Um cartomante havia se alojado na sala e as colegas que dividiam o aluguel formavam fila para saber das previsões. Todas com 21 anos e um futuro longo pela frente. O que facilita bastante o trabalho do tal cortador de cartas. Bastasse ele embaralhar bem a nossa vida e falar sobre um amor que estava por vir ou que seríamos extremamente realizadas nas nossas profissões, iríamos com certeza nos dar por satisfeitas. Ou quase.

Cheguei totalmente desprevinida. Eu morava no prédio do lado, por isso estava de chinelo mesmo, descabelada e sem dinheiro. As meninas, uma a uma, eram atendidas e vinham para a cozinha me contar sobre as novidades. - Daqui a 6 meses vou me casar. - Vixi, mandou eu ser fisioterapeuta. Entre outras coisas.

Eu tinha a convicção que elas facilitavam. Confundiam o cara com uma cabeleleira e já iam contando tudo. Para responder perguntas de meninas aflitas bastava um sim ou não. Ia de acordo com a crença de cada uma.

Chegou a vez da Taís. Ela não saiu de lá dando saltinhos. Mas demorou um pouco..mais do que 3 sessões. Queria muito saber se depois de 8 anos realmente o cartomante juntou dama com rei e se afogou a morte em um copo de tereré. Ele acertou Tatá?

Chegou a minha vez. Eu resisti. - Não tenho 20 reais. Eu disse - Vai de graça mesmo. Ele convidou. E fui.
Apesar da minha curiosidade coçante eu queria acreditar que ele não passava de um charlatão, ou tudo de uma brincadeira para passar mais rápido a tarde encalorada em Ribeirão.

Virou 3 cartas e me falou:
- Nesta posso ver que vai ser bem sucedida no trabalho, e que sempre vai querer algo mais.
- Você vai embora daqui 1 mês. Morar com a avó, com os pais, no exterior, com a cunhada, em tantas cidades que você jamais ouviu o nome. E vai amar esta vida de andarilha.
- Aqui está mostrando que você não vai se casar com o atual namorado. Vocês são de mundos bastante diferentes.

Sai de lá com um sorriso meio de canto, pensando que o cara pirou de vez. Eu estava noiva, ora essa.
Fizemos um brigadeiro e ficamos ali, todas as meninas, convencidas de que se fosse pra falar coisa ruim era melhor nem ter vindo.

Mas quando lembro, acho graça. Pelo modo como nós (mulheres) sempre nos convencemos das coisas que os outros preveêm para nossa vida, que ficam no subconsciente, e mesmo sem querer, acabam se profetizando. Acredite ou não.

De você eu cobro 10 e prometo dizer só o que quiser ouvir.