segunda-feira, 16 de maio de 2011

Gavetas, potinhos, caixas e afins

Não posso ver um espacinho que estou enchendo de papelada. Elas se perdem no buraco negro dos sentimentos guardados para sempre.Com a mesma maldita mania resolvi guardar também as coisas "importantes".

A proposta inicial era colocar em um lugar bem seguro toda documentação como: RG, carteira de trabalho, CPF, título de eleitor, carteirinha da unimed, certificado de casamento, e deixar na bolsa só a CNH para aquele caso de perder a memória ou ser encontrada na rua com a calcinha furada após uma pressão baixa.

Eu já experimentei andar altamente etiquetada, incluindo tipo sanguineo e arcáda dentária, e o resultado foi um assalto que me rendeu dias no "gastatempo". Mas como todo lugar bem seguro acaba sendo também bem escondido, na horas em que a gente mais precisa pode se considerar perdido.

Meu cunhado passou 3 anos providenciando papeladas, traduções, cópias autenticadas de toda árvore genealógica da família, e passou esses últimos meses colado ao computador só para agendar uma entrevista para mim no Consulado Italiano. O fato é que eu, a mais desligada, não menos desisteressada do mundo resolvi procurar a minha identidade 3 dias antes da viagem.

Comecei revistando todas as bolsas. A que tinha papéis de bala da década de 80. A com adesivos e bottons de empresas nas quais já trabalhei. A que guarda moedas de 5 centavos com elástico para cabelos e caneta 4 cores sem tinta. Algumas, milacrosamente, estavam vazias. A de renda, a bordada pela baiana de Salvador, a mini, a maxi, a furta cor. E nada, do meu RGzinho.

Depois fui para as gavetas. A do nego. A minha. As revistas. As fotos. As pastas com contas de luz, água, telefone. As pastas com portfólios antigos. As cartinhas de amigos da infância. A gaveta da maquiagem. Da calcinha.

Não vencida (só um pouco raivosa) tirei todas as roupas do armário, joguei na cama e comecei a procurar embaixo de cada barra de saia, nas dobras da calça, nas golas perfumadas. E nada de encontrar aquele número inútil que tem a pretensão de me definir.

Foi quando minha mãe ficou histérica no telefone: -Não percebe o quanto é importante. Quanto tempo demoramos para conseguir esta entrevista? Como ela nunca fica neste estado resolvi contar um pouco mais com a sorte e com um atributo fundamental que é puxar pela memória. BINGO.

A última vez que precisei foi há 1 ano quando fiz alguma coisa da minha vida mais importante do que entrar em uma boate. Está com as lembrancinhas do casamento.

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