terça-feira, 15 de maio de 2012

Me dá um tchunnn... Me dá um tchaaaa...

Estava há 40 minutos, embaixo de chuva, esperando o ônibus dar o ar da graça, quando uma menina perguntou:

- Moça, o Vila Madalena já passou? 
Nem sei te dizer a cara que eu fiz, mas respondi: - Pior que já. 
- Faz quanto tempo? Ela voltou a perguntar.
- Uns 5 minutos. 
- Você também perdeu ele? 
- Não, estou esperando o vermelinho já faz algum tempo. 
Olhei para a avenida com esperança de avistar algum sinal e quando percebi já estava embaixo do guarda chuva da menina e ela me abraçando para que nenhuma das duas pegasse chuva.
- Muito tempo, você quer dizer. Tá enxarcada.
Como eu não sou muito de recusar um gesto repentino de carinho, fiquei uns 5 minutos ali, sem dizer nada, quando ela voltou a falar.
- Não posso esperar por 1 hora. Acho que vou pegar um táxi. Como eu faço?
Eu, mais que prontamente, estendi a mão até que um táxi parasse. Ela perguntou se eu gostaria de ficar com o guarda-chuva. Obviamente, recusei. (Vocês devem estar se perguntando, porquê obviamente, você aceita até abraço de estranhos). Aí ela entrou no táxi e gritou:
- Obrigada moça, você é mesmo linda.

Depois de mais 20 minutos meu ônibus chega. Sentei na última cadeira vaga, aquela para obesos ou gestantes ou idosos. Tratei de me encostar pois a viagem seria longa. Para você ter ideia, foram mais 20 minutos para andar 3 quarteirões. Compadecida, resolvi agradecer a boa ação que havia recebido um pouco antes, passando-a adiante. Ofereci meu lugar a uma senhora de uns 60 anos e estranhei quando ela recusou.

Não demorou muito, outra cadeira vagou, e a mesma senhora pegou um alcool na bolsa e começou a jogar na cadeira, no encosto, no braço e até no vidro da janela da condução. Com uma paninho frenético esterelizava tudo. Por fim, colocou o capuz da sua blusa de frio e conseguiu se sentar. Para ir embora, a situação piorou, a senhora colocou uma luva para poder apertar a campainha de parar.

Ri sozinha pela cena que veio a minha cabeça. Imagina se aquela menina, que pediu informação pra mim, tivesse abraçado essa senhora? Não queria nem estar lá pra ver.

Mas eu estava e isso com certeza daria uma ótima história. A história de que nem sempre a intenção vale mais do que a ação e de que tem gente que simplesmente não está aberta para receber. Tudo isso com direito a trilha sonora do radinho de pilha do cobrador: - Me dá um tchunnn... Me dá um tchaaaa.... e a chuva em enxurada lá fora.


2 comentários:

E o sonho continua disse...

Se puder der sua fessora hj te darei 10 nesta linda crônica!!!
Fiquei emocionada na parte que ela disse que vc é linda!!!E olha que ela viu apenas o exterior....

Ellen Pitillo disse...

Oimmm, titia. Te amo muitooooo. Obrigada por estar sempre comigo.