sábado, 16 de fevereiro de 2008

Sem créditos

Nunca precisei mentir. Até o dia que fui surpreendida por uma verdade: as pessoas deixam de se amar. Eu mal sabia o que era isso. Mas menti. Acho que vou ter um filho seu. Talvez fosse isso mesmo que estava sentindo. A dor era tanta que mesmo para uma criança de 17 anos poderia se comparar a ter um filho (algo se abria dentro de mim). Algo que nunca mais ia fechar. Mesmo assim nada mudou. O menino do meu primeiro beijo já era também o beijo de outras garotas.
Depois desse dia aprendi a ser desprezível, simuladora e mentirosa. Observava como era fácil conseguir o que eu quizesse sendo uma menina boazinha, e aprendi que poderia também mentir para o bem. Se minha mãe perguntava onde estava meu irmão, eu inventava alguma coisa. Por que eu deixaria ela preocupada sem motivo? Daria um jeito de achá-lo logo. Se uma amiga estava triste por causa de um garoto, eu dizia que ele a amava, a maneira dele, e dava um jeito dela perceber alguém que a merecesse mais. Se eu estava triste, mentia. Pra que estragar o momento? Poupando os outros, acreditava se essa palavra "mentira" pudesse se transformar em outra. Mas quem disse que alguém ia querer me poupar de qualquer dor. É MENTIROSA MESMO, E MENTIR É COISA FEIA! Quanta hipocrisia, por que passei tantos anos impedindo que as pessoas a minha volta sofressem, e por que justo agora eles tinham razão.
Mentindo tanto, com pequenas coisas, que não representavam nada, passei a mentir pra mim mesma. Inventar uma vida que não existia. Exagerar. Aumentar a dose de humor, morrer de sofrimento e dramaticidade. Passei a acreditar que realmente vivi doces e lindos momentos, e que meu mundo cor de rosa raramente eram antigidos por trovões e tempestades. Não, nada de principes e seus contos de fadas. Mas eu nunca deixei de ser a princesa do meu reino e não poupava lágrimas nas minhas guerras internas. Hoje parei de mentir. Hoje ninguém me reconhece. Estranha quando me zango, perco a paciência ou fico no meu limite. Quisera eu mentir, mas as pessoas não acreditam nem mais quando digo eu te amo. Meu reino não tem mais visitas. Ninguém quer ficar pra sempre e desconfia quando eu convido pra ser feliz.

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