segunda-feira, 8 de setembro de 2008

La vie en Rose

Para escrever é preciso estar inspirado. Gostaria eu que essa frase fosse verdadeira. Muitas vezes a pressão e a necessidade nos faz começar a escrever. E tive que escrever criativamente muito mais do que queria nesses últimos dias. Por isso estive ausente do blog. Guardo minhas palavras especiais para momentos de reais inspiração. Não que eu esteja nesse momento com a alma totalmente elevada. Acabo de comer minha salada italiana de todos os dias. E algo me diz que enjooei dela. Não consegui comer até o fim dessa vez. Depois de 2 meses simplismente repugnei. Isso costuma acontecer comigo inexplicávelmente. Posso amar alguma coisa com todas as minhas forças e venerá-la, defendê-la... e de repente, um dia acordo sem mais nenhum interesse por aquilo. Pode ser algum instrumento de defesa. Ferramenta que uso pra me proteger, mas hoje, só hoje estou desgostando de tudo que está relacionado a Amsterdam, principalmente a escola daqui. Não consigo mais produzir pra eles, entreguei os pontos, apenas não quero mais. Conto os dias pra uma pequena férias de 2 semanas e meu merecido descanso da fuça desse povo. Queria tanto ficar aqui, mas como ainda não arranjei emprego, estou vendo que me despedir da cidade será inevitável, então engulo esse azedo da minha saliva e procuro falar cada vez menos por causa da minha garganta. Ela dói muito. Eu posso parecer estar aceitando bem o fato de dizer adeus, mas meu corpo responde por mim, é difícil esconder.
Recebi um email de uma agência em Londres me querendo como estagiária por lá. Senti-me lisonjeada. Esse sempre foi meu sonho. Mas agora não é mais. Já nem sei mais se gosto de São Paulo como antes. Tive uma experiência não tão bem sucedida com uma metrópole no último fim de semana. Finalmente conheci Paris. Nunca foi meu sonho ir pra lá. Mas é o da minha irmã, do meu irmão, do meu tio, e de todo mundo que acredita piamente que Paris é a cidade dos sonhos, do romance e da moda. Peguei a minha mochila, coloquei ela nas costas e me preparei para uma solitária aventura. Lá fui eu: 8 horas em um ônibus super apertado, onde mal cabiam as minhas pernas, e minha vontade de fazer xixi. Sim, era um pinga-pinga que só parava pra subir gente e aumentar a lotação. Nunca pra descer. E não tinha banheiro lá dentro. Incredible!
Uma noite inteira passada as claras com uma senhora de uns 130 quilos ao meu lado que queria acreditar que eu era muçulmana e me convidava de 10 em 10 minutos a rezar para o Alá dela.
Era ainda escuro quando cheguei. Tive medo do metrô. Há tempos não me deparava com a civilização. De cara pude comparar que São Paulo é uma tentativa má sucedida de se parecer com Paris. Com a única diferença de que agora o Rio Sena não é mais tão poluído assim. E tudo que eu precisava fazer era ir até o centro (METRÔ REPUBLIQUE) e seguir todo o percurso do Rio Sena, que começava na Cathedral de Notre Dame e terminava na Torre Eifel. Se eu fosse uma pessoa muito ansiosa com certeza ia querer conhecer a Torre antes, mas meu foco era em andar calmamente até às 2h da tarde (horário do meu check-in no AU Palais)e conhecer o Museu do Louvre, esse sim despertava a maior curiosidade em mim. Não, não sou ligadas a museus. Acho chato, enfadonho e confesso aqui porque vocês não podem me chamar de aculturados, ou podem?
Mas assisto muito filmes (embora saiba que os livros são mais interessantes) e Código da Vinci reamente me instigou por todos seus segredos e mistérios.
A cidade no entanto me lembra mais os desenhos animados do que os filmes adultos: Corcunda de Notre Dame, Esmeralda, Moulin Rouge, Pequeno Príncipe, Edith Piaf entre outros. Sem dúvida é um lugar de inspiração.
Chegar às 7h da manhã com a cidade toda deserta, um ventinho tão gostoso no rosto que teimava em deixar minha echarpe no lugar, e a máquina fotográfica a mãos, eu não poderia desejar mais nada.
Mas assim que o calor foi aumentando tive que trocar de roupa no provador de uma loja pra conseguir continuar a caminhada. E nesse momento já estava pedindo arrego. Tinha muita coisa pra desejar: outros pés, por exemplo, alguém pra carregar minha mochila, uma alma viva pra eu conversar, um chuveiro pra tomar banho, que a música NE ME QUI TE PÁ saisse da minha cabeça e chegasse logo a hora de dormir.
Bem, nada disso aconteceu. Então conheci todos os pontos turísticos de Paris, já que estava lá pra isso, fingindo levesa e alegria a cada passo. Que calor infernal! Quem pode ver algum charme nisso?
Assisti a uma missa linda na Cathedral de Notre Dame, mesmo emocionante, comi uma deliciosa panqueca sem sal em um dos restaurantes mais chiques de Paris, comprei um perfume da Galerie Lafayetee, tomei um sorvete no pé da torre, não enfrentei nenhuma fila pra qualquer museu, tirei uma foto gargalhando de felicidade em frente as pirâmides, segui deslumbrada pela Avenida Champs Elyseé, notei o quanto minhas roupas não combinavam em nada ao posar no Arco do Triumpho, viajei meia hora de trem pra conhecer o Castello de Versalles, sentei no jardim e só desejava que o tempo parasse ali, subi várias ladeiras pra chegar até Sacre Couer e foi quando percebi que era uma cópia do pelourinho aquele monte de neguinho colocando fitinha no seu braço e pedindo dinheiro por isso.
E mesmo simplificando toda a história, valew. Conheci a tal aclamada Paris e seus amores e estou imensamente grata por isso. O que me fez rever algumas coisas, incluindo o medo de me mudar pra Hamburgo. Sair de uma capital com 747 mil hab. para uma de 1.860 não vai ser tão fácil como antes. Deseja-me sorte! Cheers X.

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