segunda-feira, 15 de junho de 2009

território desconhecido

De mala e cuia, foi assim que ela caiu de pará-quedas no seu passado. Tentando não lembrar do que já esqueceu, inventa sonhos para um futuro ainda melhor. Sonhos que não lhe obedecem. Sonhos que vão acontecendo assim: atropelados, meio sem jeito, mas vão. E nesses fragmentos de realidade uma fresta de luz reascende à sua janela. 3 quartos brancos, profundos, ela e sua janela, vazias. E ele com ela. Sempre com ela. Errante e andarilho tentando suportar o tom da sua voz, as palavras que saem sem pensar, as cobranças e prestações de conta, os insultos, o sono excessivo, a falta de sexo, o desejo canalizado em outra forma de criar.
Sobe 8 lances de escadas. De cima de tudo avista como é pequeno o Ribeirão que cruza a sua rua. A rua que dava no castelo da princesa e agora vai até onde suas mãos digitam com um dedo só a história de uma profissional em se jogar. E ela se entrega. Com todas as dúvidas que lhe permitem ter, mas com a mesma vontade de tudo dar certo. Porque ela foi recebida tão bem. Porque ela está conseguindo dar o melhor de si no emprego. Porque ela ganhou uma cama, colchão e armário novinhos. Pelas parcelas do sofá e por ter encarado, à vista, os medos que nem teve tempo de chegar a ter.
Ela está muito feliz. Tão feliz que não consegue demonstrar com sorrisos. Prefere se fechar na casa sem energia. Prefere se fechar, em segurança, nos planos do que ainda precisa fazer para se libertar. Os braços doem (pode ser das malas que já fez). As pernas doem (de ficar sentada neste lugar, esperando o mundo continuar andando). E ela tenta dar a impressão de que é mais forte do que tudo. De que pode se impor porque ela sabe aonde está pisando. Mas sabe-se lá.

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