quarta-feira, 22 de junho de 2011

G (sol) para quem não quer C (dó)

Todo mundo tem um sonho. Da minha amiga do trabalho é nadar com um tubarão branco. Da minha prima é conhecer a Xuxa. Do meu marido é ser um grande chef de cozinha do seu próprio restaurante. O meu é cantar.

Partindo da teoria que qualquer um que gosta de música pode ser um bom cantor depois de algum treino, sei que para eu ser boa ainda preciso praticar muito.

Mas quando eu canto (e não são 24 horas por dia), quando eu canto simplesmente sai.
É como uma palavra dita um pouco mais alta e carregada de sentimentos. Aí quando eu percebo que não estou incomodando ou que ninguém gritou psiuuuuuuu preciso trabalhar, aumento um pouco o volume, fecho os olhos e começo a sentir uma mistura de "vergonha" (tem gente olhando) com "ai se eu cantasse assim" (nossa! mas eu canto).

Na minha idade tenho plena noção de que posso pagar um mico danado expondo o meu sonho para os amigos. Mas aí me lembro que dos amigos não vou ouvir criticas então poderei continuar com minha falsa ilusão como parte de 80% na importância do sonho.

Sei também que sonhos realizáveis não tem graça. O que acontece se ele acabar? Viverei de que? Melhor que continue sendo o que é: um pouco de ansiedade, poesia e algodão doce.

Fã de Maria Bethânia a Maria Gadu, Adele a Shakira, já SONHEI em cantar no trio elétrico da Claudinha (melhor do que meu marido que sonhava com o meu próprio trio elétrico e um camarim inteiro para ele regado a bebidas). Por isso, meu programa preferido é ir a shows. Não sei porquê, mas às vezes sinto que essas fortes mulheres podem olhar nos meus olhos e compreender o meu amor em devoção lacrimejado de admiração.

Desde sempre não consigo conceber uma criança que não aprenda um instrumento. Meus pais bem que tentaram. Flauta, violino, baixo, piano, violão.... e eu nunca saí de Fio de Cabelo. Mas vale a pena insistir. Gente como minha irmã (a pessoa mais talentosa que eu conheço) dá rasteira em qualquer um quando pega um desses no braço.

A Tica ainda arrasa no vocal, vai do soprano ao contralto sem tremer as veias do pescoço. Quando criança me pegava tentando imitá-la. Quando ela cantava, eu abria a boca (como aquelas mães quando dão comida ao bebê) fingindo que era eu, brincando com a possibilidade de eu brilhar também.

Reuníamos na sala a família toda. Pai, mãe e os 3 irmãos. Cada um tentando impressionar mais do que o outro e ouvindo atentamente: cante com o coração, não precisa gritar, sinta a música, coloque a sua característica nela e outras palavras como perspectiva e profundidade (um pouco difíceis para entender naquela idade). De tudo isto abstraí um único ensinamento: você pode não ser a melhor, mas sempre vai dar o seu melhor.

Assim, toda vez que íamos a algum barzinho, eu recebia um incentivo da família para cantar no intervalo dos shows: Moço, sabe o que é? minha sobrinha canta. Toca Honey Baby para ela cantar? Os aniversários também terminavam assim. Depois do bolo, uma rodinha de violão. E mesmo com a mesma pastinha, que para quebrar o gelo eu dizia: só toco clássicas, meus amigos ouviam uma a uma, cantando as letras de cór.

Um dia conhecemos um garoto (aqueles com o privilégio de nascer com o dom) e fomos logo colocando-o na família. Fã de cold play aprendeu MPB só para nos agradar. Ouviu atentamente os comentários leigos sem contrariar. E fez das nossas vidas uma melodia serena com delicados arranjos a se dedilhar. Ele nos mostrou a beleza de um susurro e disse para minha irmã: comigo pode ser sereia, comigo pode ser o que for.

Participar de tudo isto é o que me realiza. Ter a minha família ao meu lado é o que me faz cantar.

3 comentários:

Anônimo disse...

ai q bosta..justo hj q estou sensivel.,.vc falando lindamente de mim assim...ai q naum páro de chorar...snif sinf...te amuuu....obrigada pelos elogios..

Ellen Pitillo disse...

Você merece isso e muito mais. Todos elogios são pouco.

karoline disse...

ai ai ai ... eu nao to podendo ler essas ... eu choroooo chorooooooo